Aquela eterna fonte escondida,
mas eu bem sei onde ela tem guarida
mesmo de noite.
Da minha vida, nesta noite escura,
mostra-me a fé, a fria fonte pura,
mesmo de noite.
Sua origem não sei, pois não a tem,
mas sei que toda origem dela vem,
mesmo de noite.
Sei que não pode haver coisa mais bela,
e terra e céus se dessedentam nela,
mesmo de noite.
Sei que ela não tem leito a assoalhá-la,
por isso ninguém pode vadeá-la,
mesmo de noite.
A sua claridade jamais finda,
e sei que toda luz dela é provinda,
mesmo de noite.
Que impetuosas são suas correntes!
Regando vão infernos, céus e gentes,
mesmo de noite.
E dessa fonte nasce uma corrente
que, bem sei, vigorosa e onipotente,
mesmo de noite.
Essa corrente, sei, de duas procede,
e ambas não têm nenhuma que as precede,
mesmo de noite.
Aquela viva fonte está escondida
em um Pão vivo para dar-nos vida,
mesmo de noite.
É dali que ela chama as criaturas
que, desta água, se fartam às escuras,
mesmo de noite.
Aquela viva fonte que desejo
é neste Pão sagrado que eu a vejo,
mesmo de noite.
(São João da Cruz, in: Poesia para meditação - Ed. Paulinas)
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